Respondendo | Perguntas sobre introdução e passagens de tempo nas fanfics!

Seu nome: Claire Redfield

Já escreve fanfics a um tempo ou começou agora? Escrevo há um ano praticamente.
Sua dúvida: Bom, eu tenho sérios problemas ao escrever o primeiro capítulo de fanfic então gostaria de fazer algumas perguntas.

Eu quero escrever uma fanfiction que tenha dois pontos de visão, no caso seria alternado entre os capítulo, um capítulo narrado pela personagem principal e o outro narrado pelo personagem principal. Mas eu gostaria de fazer o primeiro capítulo em terceira pessoa para poder descrever um acontecimento importante que os dois presenciaram quando eles ainda eram crianças. Como uma introdução só que repleta de diálogos importantes e detalhes, mas acho que ficaria em torno de quatro mil à cinco mil palavras. Acha que uma introdução em terceira pessoa nesse caso seria bom? E sobre o número de palavras, acha que é muito?

No caso se tiver muitas palavras seria melhor dividir essa introdução em dois capítulos em que vemos como cada um reage, só que com a narração em terceira pessoa? Também tenho uma dúvida sobre passagens de tempo, na hora de escrever algum capítulo com passagem de tempo eu acabo me enrolando na hora de descrever a personagem ao longo dos anos e a mudança que ocorre nela, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Tem alguma dica sobre como fazer uma boa passagem de tempo?


Olá pessoal, hoje eu vou responde a pergunta da Claire, a qual eu achei muito interessante e como alguns de vocês podem estar com dúvidas no mesmo assunto, decidi respondê-la em post.

Bem Claire, acho que a introdução em terceira pessoa enriqueceria sua história, nesse caso. Usando-se da terceira pessoa, podemos dar alguns detalhes que até mesmo os personagens não sabem, e isso incita o leitor a querer ler até que o personagem descubra certas coisas que o leitor sabe que lhe causariam impacto. Além disso, a narração em terceira pessoa expande o universo da história para o leitor e dando a introdução assim, é mais fácil que o leitor se identifique com a situação da história primeiro para depois se identificar com cada um dos personagens de modo individual, já que você vai fazer capítulos alternados. Eu apoio sua decisão.

Só tome cuidado com uma coisa: não repetir os mesmos acontecimentos nas duas narrações, pois isso fica cansativo. Você pode terminar a narração de um capítulo num momento crítico e continuar esse momento, mas dos olhos do outro personagem principal no próximo capítulo. Entendeu? Assim você não cansa o leitor e deixa a narrativa e a história mais dinâmicas.

Quanto ao tamanho do capítulo, acho um tamanho agradável. Sempre digo que um capítulo digno tem no mínimo mil palavras, então o seu, se você aproveitasse bem e caprichasse bastante, seria um senhor capítulo. Sinceramente, acho legal você fazer a introdução em um capítulo só.

Sobre passagens de tempo, depende da situação que a personagem passou e como está lidando com ela. Minha maior dica é que se apegue aos detalhes, principalmente nas coisas que você descreveu sobre ela criança no seu capítulo de introdução. Tente idealizar a mudança dela na cabeça e depois passe para o papel. Vou dar um exemplo:

NARRAÇÃO 1

"14 anos atrás
Sob a grama, Ana e Rafael brincavam com seus brinquedos prediletos. O maior prazer naquilo, no entanto, era que um tinha a companhia do outro para desfrutar. Gostavam disso mais do que tudo, por mais que ainda não entendessem esse sentimento. 

Rafa simplesmente amava olhar os cabelos castanhos e cacheados de Ana à luz do sol, balançando como se tivessem vida própria diante do vento que os empurrava para frente e para trás, vezes ricocheteando o rosto branco da menina, não que ela se importasse com isso. Adorava a forma clássica como a pequena menina era vestida pela mãe, sempre de vestidos, rosa, vermelho, amarelo ou qualquer cor viva que deixasse os olhos azuis da menina ainda mais vivos, vezes contrastando vezes combinando com a roupa escolhida; também usava sempre sapatilhas que combinavam com a cor da vestimenta, meias com babados ou rendas até os tornozelos. As bochechas da garota eram rosadas e faziam um degradê encantador até ficar tão branco quanto a neve já no queixo. 

O que ele mais amava na menina, no entanto era o coração puro e a alegria infindável que partiam daquela miniatura de mulher. Seu jeito bondoso, sua paciência e seu rosto sempre iluminado por um sorriso, traziam a paz que muitas pessoas gostariam de ter no dia a dia para o pequeno menino."

NARRAÇÃO 2

"Presente
Mais uma vez, a garota andava atordoada e desorientada pelas ruas frias de São Paulo. Mais uma vez a bebida havia sido sua aliada durante a tristeza que carregava e agora jogava em sua cara o quão inútil a pobre jovem era.

Nesses momentos de tristeza, Ana evitava lembrar de sua infância, afinal isso só a deixava pior: pensar que um dia fora feliz e amável. Seu coração já não era o mesmo, estava quebrado em mil pedaços e agora ninguém mais poderia sentir o calor da bondade em sua presença. Tudo o que tinha a oferecer era ódio gratuito, desprezo e ignorância por qualquer um. Os cabelos, um dia castanhos, vivos e esvoaçantes, se limitavam num opaco ruivo quebradiço, precisando de tratamentos e retoques, coisas com as quais ela não se importava a muito tempo.

Os saltos do coturno preto batiam de encontro ao asfalto esburacado das ruas vazias. O lápis de olho e rímel escorriam pela sua face, que ainda era branca como a neve abaixo de todo aquele escorrimento preto, esse que era devido às lágrimas muitas vezes incontroláveis que teimavam em sair de seus olhos todos os dias, quase como se fosse hábito chorar até esgotar-se. E realmente, para Ana, era.

Calças coladas pretas e rasgadas, uma camiseta larga preta cortada nos ombros e uma jaqueta qualquer compunham o resto das roupas que um dia foram cheias de babados e gracejos. Ana sentia vontade de vomitar ao ver suas companheiras de faculdade em terninhos ou vestidos trabalhados em renda. Para ela, tudo não passava de futilidade e, se alguma vez sequer, por alguma leviandade de sua mente chegasse a admirar qualquer coisa dessas, se opunha contra si mesma e forçava-se a achar tudo feio, fútil e inútil. Não a admirava que não tivesse amigos, ela tampouco queria algum. Seu único amigo, o qual não via a tanto tempo, provavelmente não a reconheceria, e se reconhecesse, se repugnaria na sua presença. Ana sempre pensava sobre isso e até podia passar um vislumbre em sua mente de mudar, mas então ela novamente se recolhia ao canto de sua mente e coração, onde odiava tudo e todos. Rafael não se importa com ela, nunca se importou. Era fora tola, pensava, e mudar por ele ou qualquer vislumbre dele ou qualquer outra coisa seria tolice também."

Consegue perceber? Basicamente todos os aspectos de Ana quanto criança, tanto físicos como emocionais, foram resgatados na nova descrição da garota, mas com suas devidas mudanças. Se quiser fazer a nova descrição na narração da personagem principal, não há problema: simplesmente mude de terceira para primeira pessoa, fazendo as devidas alterações no texto.

Te desejo sorte com a fanfic. Se fizer tudo bem caprichadinho e der atenção aos detalhes, tenho certeza que será um sucesso. Temos mais dicas aqui no blog sobre primeiros capítulo e algumas dicas gerais nesse post pode te ajudar também.

Beijos e até mais!

Por: taeminwz